O saneamento básico ainda é um desafio urgente no Brasil, apesar de seus impactos positivos já serem amplamente reconhecidos. Embora pareça óbvio que acesso à água tratada e esgotamento sanitário traga benefícios para a saúde e a qualidade de vida, o tema continua sendo negligenciado em políticas públicas e orçamentos. A engenheira Luana Pretto, presidente-executiva do Instituto Trata Brasil, argumenta que o saneamento é uma política transversal, capaz de gerar avanços significativos não só na saúde, mas também na educação, na valorização imobiliária, no meio ambiente e na produtividade do trabalho.
Estudos do Instituto mostram que a universalização do saneamento até 2040 poderia gerar um retorno de R$ 816 bilhões em ganhos econômicos para o país — o que equivale a aproximadamente R$ 40,8 bilhões por ano. Esses ganhos incluiriam R$ 25,1 bilhões em economia na saúde pública, R$ 438 bilhões em aumento de renda da população ocupada e R$ 48 bilhões em valorização dos imóveis, entre outros.
A autora destaca o paradoxo de um país que busca avançar em sustentabilidade e inovação, mas ainda falha em oferecer serviços tão básicos à população. Em áreas carentes, a falta de água potável e de coleta de esgoto impacta diretamente o cotidiano de milhões de brasileiros, que enfrentam doenças de veiculação hídrica, evasão escolar por problemas de saúde e até dificuldades para manter a higiene pessoal, prejudicando sua dignidade e oportunidades.
Além disso, o despejo diário de esgoto sem tratamento nos rios brasileiros compromete a biodiversidade, o turismo e o abastecimento de água. São despejadas, segundo o Instituto, mais de 5 mil piscinas olímpicas de esgoto por dia sem nenhum tipo de tratamento.
Luana Pretto conclui que tratar o saneamento básico como prioridade não é apenas uma questão de justiça social, mas de inteligência estratégica para o desenvolvimento sustentável do país. Ignorar essa agenda significa perpetuar desigualdades e comprometer o futuro ambiental, social e econômico do Brasil.
Fonte: Correio Braziliense – Opinião (09/06/2025)
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