Apesar do avanço tecnológico e da concentração de riqueza, as metrópoles brasileiras seguem vulneráveis a tragédias climáticas causadas pela falta de infraestrutura de drenagem urbana. Entre 1991 e 2023, o país registrou quase 26 mil eventos hidrológicos de desastres, resultando em 3.464 mortes e prejuízos superiores a R$ 151 bilhões, segundo dados nacionais. A principal causa: a ausência de planejamento e investimentos estruturantes no manejo das águas pluviais.
Atualmente, 94,7% dos municípios brasileiros não possuem Plano Diretor de Drenagem e Manejo de Águas Pluviais, instrumento essencial para prevenir alagamentos, deslizamentos e impactos recorrentes das chuvas intensas. O cenário expõe o paradoxo urbano brasileiro: cidades que crescem verticalmente e digitalmente, mas continuam com a infraestrutura “enterrada” em déficit histórico.
A negligência estrutural é mais evidente em comunidades vulneráveis, onde o crescimento desordenado, a impermeabilização do solo e a falta de esgoto e drenagem resultam em ambientes insalubres e altamente expostos a doenças como leptospirose, dengue, hepatite A e diarreia. Moradias frágeis são danificadas a cada temporal, com invasão de água contaminada e risco de desabamentos. Crianças perdem aulas por adoecimento, e mulheres assumem cargas desproporcionais nas crises domésticas. O impacto, portanto, é estrutural e intergeracional.
Nos últimos anos, o investimento em drenagem urbana girou em torno de R$ 10 bilhões anuais, enquanto a necessidade estimada pelo Ministério do Desenvolvimento Regional é de R$ 22,3 bilhões por ano até 2033. Além disso, apenas 263 municípios (cerca de 5%) possuem planos formais para drenagem e manejo de águas pluviais, refletindo a baixa prioridade dada ao tema no planejamento público.
Especialistas e gestores defendem que eventos extremos sejam tratados como gatilhos para ação preventiva, e não apenas como emergências momentâneas. Em vez de discursos técnicos ou paliativos, é urgente promover uma visão estratégica e sensível ao impacto humano, com obras estruturantes feitas antes da próxima tragédia — e não depois.
Fonte: O Globo – 11/06/2025
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